domingo, maio 20, 2007

Cidade


Cidade desumana
Fria cruel
Implacável
Entupida de lixo
Ruas calcetadas
A preto e branco
Onde um gato
Rafeiro como todos
Procura comida
Por entre os caixotes
Ruídos da noite
Numa esquina
Onde a saudade não pára
Duas meretrizes
Fazem o expediente
Dando um pouco de luxúria
Aos clientes
Os Almeidas passam
Levando consigo
Os detritos sórdidos
E os segredos vis
De todas a casas
Errantes procuram
Um lugar aconchegado do vento
Para dormirem
Embalados pelas recordações
Do passado nem sempre afortunado
Entre as arcadas da Mouraria
O som das discotecas e dos bares
Enche o ar
Sons inaudíveis
De risos copos e cigarros
Sento-me no velho banco
Queimado do sol
No jardim do Torel
Escrevendo
Alheio
Alienado
A tudo o que me rodeia
E deixo os ponteiros
Do relógio
As voltas
Até de manhã…

Fotografia cedida por Miguel Silveira

By Lord Poseidon

quinta-feira, maio 03, 2007

Sem Brilho


Sentado a mesa
De um qualquer café
Vejo o passar do tempo
Velocidades
Que não são as minhas
O meu espírito inquieto
Procura uma tábua
De salvação
Flutuando á superfície
Do mar de emoções
Por quanto tempo
Por quantas horas
Estou no fio da navalha
Afogo-me nos meus pesadelos
Miragens irreais
Do que sou ou poderia ser
Quanto tempo mais
Vou aguentar
Queimo sem forças
Apagando vagarosamente
O brilho da única vela
Que resta...



Fotografia cedida por Miguel Silveira

By Lord Poseidon