Noite Alta
Vento gélido
Seca a lágrimas
Pingentes de cristal
Onde cada sentimento vive
Galopando pelas planície Alentejanas
Dançando com as plumas
De fumo imaculado
Das chaminés caiadas de branco alvo
Beija a face suavemente
Como uma pena de seda
Fazendo gemer as árvores
E tudo em que toca
Na lareira crepita
Azinheira e pinho
Lume que aquece a casa
Um cheio sobrenatural
Que reconforta o meu ser
Mesclado com das iguarias
Preparadas pelas mãos calejadas
Da Dona Joaquina
A noite vai alta
E a procissão começa
Xailes negros
Percorrem as ruas
Rumando á ermida
Ao som do chamar dos sinos
A velha ermida construída
Antes do tempo ser tempo
Agora iluminada por luzes
Pequenas velas que bilham na escuridão
Revelando a cor leitosa das casa
Envoltas numa fita azul-celeste
Fecho a janela com um estrondo seco
Sento-me na velha cadeira
Cor da seara antes da colheita
Volto costas para esta noite
Que tem tanto de pagão
Como de cristão
Debaixo de uma manta
Tecida pelas mãos habilidosas
De uma anciã
O velho gato
Tão antigo como a mobília
Vem para o meu colo miando
E ao olhar para as sombras
Da lareira que iludem
A minha mente
Vejo em lembranças
O velhote de samarra
E definitivo ao canto da boca
Cravando na madeira macia
De oliveira as figuras do presépio
Adormeço ao som dos sinos...
By Lord Poseidon
5 Comments:
Senhor dos Mares... conheço o cheiro dos xailes negros...o aroma da madeira a crepitar...do gato que foi à rua e seca o pelo húmido à lareira...o cheiro das velas em noite de procissão...o aroma das recordações que se enrolam em sabores doces e a fel...
Que lindo... lindo!
Um abraço forte.
Doce Clarissa este poema está cheio das minhas memórias mais preciosas.
Falo nele de duas pessoas, uma que tem e a outra que teve um papel muito importante na minha vida e na pessoa que sou hoje.
Os meus avós.
Se eu tivesse este poema há mais tempo pronto pediria para entrar no vosso concurso de Natal. Mas agora é tarde demais para poder concorrer, em fim fica para o próximo ano.
Beijos de Sal Doce Clarissa
que palavra define uma emoção pura? quantas flores foram pisadas no caminho até ao portão deste reino? atravessei o frio e comi os frutos da geada. vi o fundo da existência na curva do mar. dás-me a carne de um poema à chegada. a vida é apenas isto. sede e água *
Alta, depois plana e interior e íntima, como aqueles pisa-papéis com uma casa à neve lá dentro...
Abraço.
Meu amigo... o próximo desafio tem que contar com a tua presença. Este poema é, talvez, o meu preferido.
Um beijo doce.
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